sexta-feira, 23 de abril de 2010

QUASE HaiKai Dubai


Gosto de gatos e cachorros.

Matando alguns de cada no fim tenho um morro.


Um dia cinza amarelo.

Só não dá para sair de chinelo.


Dia cinza azul escuro.

Cadê a caixinha de lápis de cor?


A fada alada

passou voando,

nem me olhou,

não disse nada.


O GATO

Ouvidor Pardinho,

Ouvidor Ouvidor

Mago Pardinho,

Ouvidor Patológico

Mago Patológico.

Vulgo: Nino


Vendo um par de pensamentos furados,

cinco frases gastas

e dois ideais.

Alguém quer comprar?


Verei a hora que em um piscar de olhos a cegueira do cego for embora?

O segundo derradeiro do último minuto?


Tem quem é feliz de graça,

o tempo todo sem motivo algum, que graça!

.

.

Imagem: Otto Dix



quinta-feira, 22 de abril de 2010

Gauche

Eu vejo um luxo, eu vejo um china, um luxo, um nóia, um luxo, um pastel de vento, um luxo, uma pomba, um luxo, uma velha enrugada a gritar. Para que tanto luxo chafurdado no lixo?


O ratinho é tão miúdo,

sempre atrás de uma réstia de sol,

de um farelo.


Ele quis tomar uma pílula que lhe explodisse o peito. Não entendi o porquê já que ando por aí, todos os dias, de peito estraçalhado como tivesse comido uma granada no café da manhã e não acho bom...


Uma semana para construir um castelo, e outra para preparar as barricadas. Não me faça começar o jogo sem estar armada, não faz sentido ser princesa general sem coroa e uma boa espada.


O que penso sobre o mundo?

Ora, não penso nada, cansei de pensar.


O pequeno pássaro amarelo comeu uma amora, manchou o bico de roxo, pegou um cisco para o ninho e foi embora. Ele sempre está indo, indo, indo, indo para sempre para algum lugar. Inquieto esse pequeno pássaro amarelo, amarelo esse pequeno pássaro amarelo.


Não quero ir num duelo de pandeiro, nem em um duelo de maneiros.

Pensei em não pensar em nada, pensei que desejo não pensar e me peguei todo o tempo pensando em pensar em nada.


- Alô, tudo bem? Quem está falando? Você pode me ouvir?

- Não??? Que tipo de surdo você é idiota?

Alegria demais me cansa.

.

.

imagem: Ritva Voutila

sábado, 10 de abril de 2010

um quarto de século de sabedoria

As pessoas falam...

e falam...

e falam...

e falam...

e só param de falar quando morrem.


As pessoas enchem...

e enchem...

e enchem...

e enchem...

e só param de encher quando morrem.


As pessoas falam e enchem, e morrem no final.

Ao final seremos apenas saudades.

.

.

imagem: Ernst Ludwig Kirchner

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Uma espécie de fixação em pombos

Parece que tudo é permitido onde nada se pode, onde a vida se deve, onde não se sabe exatamente qual remédio usar. Enquanto a fauna come a flora ninguém pode fazer nada, não dá tempo nem de gritar.

Você acorda pela manhã, levanta, abre a porta do armário do banheiro - Para que todas aquelas flores na parede, me diz pra que todas aquelas porras de flores na parede? – saca a escova de dente, pasta, fio dental, olha seu rosto jovem no velho espelho e tem a certeza de que não sabe exatamente onde tudo vai dar.

Em direção ao trabalho quando coloca em dúvida suas escolhas - suas não escolhas, sua forma de agir, de pensar, de agir de acordo com o que pensa ou totalmente ao contrário, como uma revolta velada contra si mesmo - tem um sobressalto, uma espécie de soluço a respeito da vida, uma preocupação com o lobo que está a espreita, salivando por sua carne suculenta. Quem vai acender o céu quando o sol apagar ou encenar o pequeno príncipe na calçada?

Agora você consegue perceber algumas coisas escondidas na uniformidade de uma mesmice não tão monótona, mas ainda assim igual. Uma pena que amanhã não vá lembrar. Você nem lembra como é que chegou em casa, com quem conversou ou que tipo de coisa falou. Terá assinado algum documento em branco? Um atestado de insanidade na mesa do bar?

E esses sonhos à la Harold Robbins? Essa existência inspirada em Stephen King com Marcos Rey e Maupassant nas terras de Arthur Clarke. Todas aquelas histórias dos Grimm você bem gostaria de estar lá.

E no dia em que a Emilia entrou na sala dizendo que os pombos do teto chamam pelo nome dela, foi que entendeu que não dá para evitar. Se os pombos estão chamando, responda-os. Diga:

- Olá, pombos do teto, aqui vai tudo bem. E acolá???

.

.

imagem: Bernard Buffet