segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Eu, o que e o mas

Bem tenho tentado escrever o que é necessário - querubins gordos e rosas estão de prova - sobre criancinhas pobres, desempregados, ursos pandas, paz universal, margem, esquerda, direita, AK 47, sobre ter e não ter eis a questão, e viva Shakespeare! Mas aí, contra todas as forças que deveriam estar a meu favor, ou melhor, para falar a verdade, já nem sei mais se deveriam, o cursor do computador pula para todos os lados, meu texto apaga, as letras não aparecem, eu disperso, adejo. Malditas páginas pornográficas, sempre caio nessa, sempre caio em várias. E encho o computador de vírus e cookies ao meu redor.

Bem tenho tentado viver, mas ainda não aprendi o que fazer quando o navio afunda e você é um rato que mal consegue nadar. Me acho engraçada de pêlos eriçados em frente ao espelho, roendo as botas que uso para andar pelo mundo, para pegar o biarticulado sentido puta que pariu.

Até tentei levar uma vida mais leve, mas os demônios me devoram. Fico lá, engolida inteira, viva, na barriga do monstro vivendo a vida de lá. Pedi um suco de laranja. Juro! E me serviram um Steinhaeger de pirar. Todo dia penso em ser uma boa moça, fazer exercícios físicos, parar de fumar. E de repente um sopro súbito de dragão exala demônios, meus velhos amigos, na cozinha, no quarto, na sala de estar...

Se vamos, aqui, hoje, apresentar minha pessoa a você caro leitor, só tenho uma coisa a dizer: sou do tipo mais normal. O que é sórdido, o que é realmente trash, o que choca, também me deixa em (de?) sobressalto. Ok ouvir Ivete Sangalo, gostar de pagode, BBB, futebol, mas saber que as pessoas fazem sexo com animais torna-me uma criatura extremamente reflexiva. Como refletir é sempre valido, tratarei aqui sobre tudo o que me faz pensar, seja cortes de cabelo, novela das oito ou a bagunça em Bagdá.

“Marcelo, 35 anos, executivo bem sucedido, irmão atencioso, filho devoto, criado e crismado sob os preceitos da santa igreja católica, já pensou em casar. Teve muitas namoradas, chegou até amar. Mas o que gosta mesmo é trancar-se em sua casa com os cachorros que cata pela rua e meter no pobre animal até cansar. É isso que realmente dá prazer a Marcelo, ele pode comprar o que quiser, mas o que gosta mesmo é de fazer sexo com animais mortos.”

Pense nisso, e não deixe seu cachorro por aí.
Bem que minha mãe avisou:

- Caroline, olhe onde isso vai dar.
*texto publicado em http://biarticulando.weebly.com/

Baladinhas de Carnaval



“Não, ninguém compreende ninguém,

seja lá o que se pensa,

seja lá o que se diga, o que se tente..”Guy Maupassant


Esse espelho bem na sua frente será alguma forma de afronta para que ela nunca esqueça que mal sabe quem é? E pior, muito pior, porque dela ainda sabe um bom tanto, entretanto tudo que aparece ou não ao seu redor, isso sim lhe é estranho.

Todo esse “mundo de gente” para que serve cada um? Alguns servem para qualquer coisa, já a maioria, uma multidão sem tamanho de seres humanos não serve para nada. Ficam aí, fazendo volume, ocupando espaço, produzindo lixo.

E você pergunta se Camila quer uma cerveja, ela quer é encher a cara, desmaiar, e não dormir. Não sonhar com aquele homem de moto que invade sua casa atirando e a atingi com três tiros, três pressões no gatilho, três disparos, três toques de telefone para acordar e perceber que de certa forma a morte é estar viva.

Enquanto o sol vai embora em quem você pensa? Quem você gostaria de segurar a mão? De quem você espera um abraço? Não espere de ninguém. Camila já aprendeu a lição, já chorou, esperneou e de nada adiantou, a vida continua ingrata, os gatos pardos e os homens parvos.

Não tem como evitar as formigas que levam o açúcar do pote, um formigueiro inteiro a passa para trás e ela não tem para quem contar. Visto que ninguém nunca entenderá o que verdadeiramente deseja dizer para que gastar seu tempo, perder seus anos? Para constatar mais uma vez o mesmo de sempre, tão mesmo que ela se nega a pensar. Se existisse algo capaz de fazer essa dor não dor passar, a cura não cura seria bem vinda, escrevo porque sei, porque posso ouvir seus pensamentos.

Há quem consiga beber para deixar de achar todas as pessoas desinteressantes e chatas, há quem seja desinteressante e chato, há quem merece ser empalado de tão chato. Mas, enfim, no fim ninguém tem o mapa, e você pode andar por séculos que nadie vai encontrar. Mas, enfim, no fim o que se pode fazer?

Esse texto triste é para compensar os abusos que o álcool carnavalesco permite aos nossos cérebros amortecidos e corpos sem destino:

- Tudo bem galera, no carnaval e outros feriados vale o antes mal acompanhado...

Imagem: Edgar Degas