desanuviar

to achando tudo artístico, tudo matamorfósico.
to achando arte no lixo sem nenhum propósito.
to querendo fazer poemas, dilemas, colóquios.
to querendo ser artista e agora?

PORTUNHOL

Se jo soi no se.
Pero que ando mui loca ando...
E que ahora ainda no estoy, és verdad

FANFARRICE

escrever traços, mandar abraços,

beijar as nuvens.

o coração, a vida, o mundo,

tudo no mesmo compasso.

ser menino, ser menina,

milhões de coisas,

a banda,

a corneta,

a rima.

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Imagem: Pablo Picasso

versos vãos...

*não crio porque não rio.
crio porque nasce,
porque creio no disfarce,
na arte de viajar...

*alusão ao escrito de Aristóteles: O Homem de Gênio e a Melancolia: o Problema XXX...

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fazer frases que combinem com combi,

com biquíni.

beber líquidos que matem a sede,
o medo da morte,

de deixar de fazer parte.

Foto de Frida Kahlo pelo fotógrafo Fritz Henle

você gostaria de submeter-me?

me ter?

meter-me?

eternidade,

maternidade...

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Sempre falo: Machismo em homem é horrível, mas suportável e “entendível”, agora não me venham pedir para compreender machismo em mulheres. Até sei de onde vem tal carga negativa em relação ao próprio sexo, mas não desculpo, e, sendo menos educada abomino e sinto asco. Atribuo a isso o fato de existirem tão poucas companheiras ao meu lado, tenho bons amigos, deles 80% “advêm da classe varonil”, subentendo-se a existência de um pênis entre suas pernas, deixando de lado o fato de os usarem ou não, e de que modo.
A fora minhas companheiras de infâncias - aquelas amigas para toda vida, para que você pode aparecer derrepente, depois de anos, pedir abrigo e dinheiro emprestado, entretanto, que arduamente você consegue manter contato diário – minha lista de aquisições nessa área geralmente é dominadas pelo sexo oposto. O que, é claro, não influência na sua qualidade, porque é por pessoas que tenho como amigas e amigos que se vale à pena lutar nesse mundo... rasgação de seda sim, mas real.
Mamãe sempre ficava abismada – o que parou de ocorrer depois de anos, quando ela acostumou-se – nas horas em que me ouvia dizer em alto e bom som: A buceta é de cada uma e façam com ela o que bem entenderem. Esse tipo de assunto realmente não faz parte do meu "vocabulário de conversas", já que não me influencia em nada saber o número de parceiros sexuais, e histórias afins, de alguém. E como só um detalhe que merece ser lembrado, dei esse exemplo de preocupação machista que geralmente está a rechear as cabecinhas de nossa mulheres, encerro a questão.
Voltando a falar de amizades, talvez tenha ficado muito seletiva, mais do que uma pessoa como eu, uma ninguém, deveria ser. Todavia, essa culpa não é só minha. Até tento, tenho paciência, paro para ouvir o que têm a dizer e sempre acabo aborrecida, cansada. Quase que invariavelmente cometem o crime capital, um momento ou outro se revelam ótimas retrógradas encobertas por garotas modernas, mulheres independentes ou de velhas beatas prafrentex. Ai de mim, quantas “almas miseráveis” por esse planeta!
Por que, afinal, atem-se a essas pequenezas? Por acaso já olharam para fora da janela? Já leram um livro? Já plantaram flores? É isso ai, vá praticar jardinagem e pensar em tudo que as mulheres lutaram durante anos, para vir uma careta como você dizer que é feio mulher fumar na rua, ó, por favor. Quanto ao feminismo radical, acho realmente radical. Adoro ser mulher e gozar dos privilégios que cavalheirescamente os homens nos devotam, como: pagar a conta, mandar flores, puxar a cadeira, ceder lugar, servir a bebida, dar a preferência em casos de emergência e todos os luxinhos que nos são relegados somente porque somos garotas.

Imagem:Édouard Manet

teto estrelado

existem cinco mil estrelas no meu quarto...

toc toc...talvez seja um demônio a bater em minha janela.

- lamento não posso abrir.
todos os vaga-lumes vão fugir.
- entre pelas frestas,
sei que você não presta.

existem cinco mil pintas pelo meu corpo,
talvez, um corpo nas cinco mil pintas,
ou pintaram meu corpo e não me avisaram?
Foram vocês ó vaga-lumes que me lograram?

para a galera da legalização...

Arnaldo Branco "As Aventuras do Capitão Presença"

George Grosz suicide

Aos deuses do rock roll

...depois de a Lis falar com o celular desligado
eu...siguilita... fumei o cigarro apagado...


live at Woodstock
Summertime
vou até parar para ouvir
fiquei emocionada


amanhã é sexta-feira 13. E daí?
demônios surgirão das sombras e mulheres nuas das chamas do inferno?

é isso que se chama de um momento sagrado?
Janes Joplim & Jimi Hendrix juntos?

aqui, agora nascem flores,
amarelas,

graciosas,
flores grandes,
pequenas,
flores verdes,
com folhas rosas.

...

“Assumimos tantos compromissos para com a vida que chega uma hora em que, desanimados de não poder mantê-los todos, voltamo-nos para os túmulos , chamamos pela morte, “a morte que acode aqueles cujo destino custa a se realizar”. Mas se ela nos desobriga dos compromissos que assumimos para a com a vida, não nos pode livrar dos que temos para com nós mesmos, e sobretudo do primeiro, que é viver para valer e merecer.”
Marcel Proust 1894

gosto... do gosto...

gosto... da cor...

gosto... dos traços...

gosto de ser eu, mesmo quando não é fácil. Gosto de estar sozinha, pensar em mim, na Lua, sozinha. Gosto de ser feliz e sou...

Tristeza não é sinônimo de infelicidade, como quietude não é de quem não tem nada para falar.

gosto...do jeito...
gosto... do peito...
gosto...gosto...gosto muito...de ganhar...

gosto de por os pés na água corrente e gelada do rio, subir em árvores e deitar na grama.

gosto de manter distância daqueles que não tem nada para dizer, daqueles que muito dizem e não dizem nada, daqueles que crêem ter o que falar... eu não os quero escutar. Meu saldo de ignorância diário vejo na televisão, e não posso negar que me divirto.

gosto de animais, quase sempre, muito mais do que dos seres humanos.

gosto de picolé e sorvete...

gosto de acordar pela manhã e sentir os lençóis na minha pele, gosto de beijar em bocas... gosto olhar o céu, o mar, a imensidão...

gosto de andar de caminhão, me lembra infância, me deixa bem...

gosto ... gosto...gosto... gosto muito....gosto pouco... gosto mais que deveria... gosto menos que o merecido... gosto tanto e tão derrepente não gosto nada... gosto até morrer...gosto por um segundo... gosto agora e não depois... gosto depois e não agora...

gosto...gosto...gosto... do gosto das frutas...
gosto...gosto...gosto...da velhinha biruta...
gosto...gosto...gosto...de andar por ai...

Salvador Dali

verso aos caretas

Vai muito mais além do que você pode ver,
Essa sua mente engessada esconde tantas coisas de você.
Não aponte para mim.
Por que me enxerga se passo sem te ver?
Deve existir, então, algo em mim que falta em você.
Sim, eu compreendo e aceito mesmo sem entender.
Conceitos fechados só servem para você.
Por isso não me acuse do que não sabe ser.

se pecados existissem...

Deverei ir confessar meus pecados ao tesoureiro do partido social-democrata, aos passageiros da terceira classe?

Graham Greene “Expresso do Oriente”

um pouco de Leminski...

Adeus, coisas que nunca tive,
dívidas externas, vaidades terrenas,
lupas de detive, adeus.
Adeus, plenitudes inesperadas, sustos,
ímpetos e espetáculos, adeus.
Adeus, que lá se vão meus ais.
Um dia, que sabe, sejam seus, como um dia
foram de meus pais.
Adeus, mamãe, papai, adeus,
adeus, meus filhos, quem sabe um dia todos os filhos serão meus.
Adeus, mundo cruel, fábula de papel,
sopro de vento, torre de babel,
adeus, coisas ao léu, adeus.
Paulo Leminski

gravura: Kotobuki

SOBRE GAIOLAS E PÁSSAROS

O aspirador de pó era um aparelho de som? Ou só se parecia? Ou era um aspirador de pó? Parti sem saber, alguém ou algo ali estava fora de sintonia, talvez eu muito atrasada, o aspirador muito futurista.

E quem você está pensando que é pra furar a fila desse jeito? Espero que seu corpo queime em fogo brando, demorado, torturante, dolorido.

Por que não escrevem de uma vez: primeiro gestantes,idosos, mulheres com criança de colo, deficientes físicos - contando aqueles que não têm um dedo - e os idiotas depois. Por quê?

As pessoas na rua, me atropelando, me empacando, me machucando. Não ando no ritmo das marés, nem para o meu próprio bem. Sei que talvez tudo isso não seja bom, mas é inato, difícil de mudar.

A lista dos bens materiais que quero?
Fora as idéias absurdas como um iate ou uma coleção de jóias valiosas?

Comparações de mim com o mundo inteiro, de como as coisas seriam diferentes se eu fosse outra. Se essa outra eu fosse, como fariam falta algumas características pertencentes a esse eu que sou.

Quando um ser passa a ser mulher?
Quando ganha o seu próprio sustento?
Quando vira mãe?
Quando sai de casa?
Quando casa?
Quando passa dos 15, dos 20, dos 30 anos?
Ou existem mulheres de todas as idades por ai?
O que é que determina?

Quantas gaiolas, afinal, um pássaro pode suportar?