quarta-feira, 30 de abril de 2008

Se o que me seduz também me traduz...

Guy de Maupassant- Bel Ami:
“E jamais uma pessoa voltou,jamais...Guardam-se os moldes das estátuas,as impressões que refazem sempre objetos semelhantes; mas meu corpo, meu rosto, meus pensamentos, meus desejos nunca mais reaparecerão. E ,entretanto, nascerão milhões de milhares de seres que terão dentro de alguns centímetros quadrados um nariz, olhos, uma fronte, faces e uma boca como eu, e também uma alma como eu, sem que eu volte jamais, eu, sem que nunca alguma coisa reconhecível de mim reapareça nestas criaturas inumeráveis e diferentes, indefinidamente diferentes, se bem que pouco ou mais parecidas.”

sexta-feira, 25 de abril de 2008

A barboleta- in memoriam da barboleta provavelmente morta na história

A barboleta pousou de leve. De onde teria vindo tão delicada criatura? Ali só habitavam lagartos e dragões cuspidores de fogo, nada mais. Ele próprio era um ser estranho naquele mundo hostil. Sua cor nem ao menos combinava com a paisagem. Mais uma vez se pos a andar. O pequeno inseto colorido e alado ficou para trás, logo vai sumir na boca grande de um réptil qualquer. Nada que não seja predador sobrevive nesse mundo.
O deserto invade-o. Há sete mil dias que permanece sozinho naquele lugar. Quem sabe tenha caído do céu, saído do mar? Não existe nada que possa ajudá-lo em tal busca, nenhum vestígio, apenas poeira e desespero por toda a parte. A água que bebeu é nojenta, o ar tem cheiro de merda, sua morada é toda parte e lugar nenhum.
Tudo é igual, mil passos à frente e parece não ter mudado de espaço. Talvez os bichos que vê sejam sempre os mesmos, ou, aqueles que vêm já venham com pensamentos iguais aos de outrora. Pois de tudo o que sempre ouviu nada mudou, idéias furadas, concepções atrofiadas.
A única erva que ali cresce esparsamente chamam de deus. Não se sabe de onde veio, nem o porque. Nunca descobriram seu antídoto. Olhos vermelhos e a boca espumante, quem a possui logo debater-se-á em espasmos convulsivos. E quando a normalidade aparentemente voltar, atacar-se-ão mutuamente, até que o sangue azul de algum deles manche a terra. É engraçado observar, porém, hora essa ou aquela perde a graça.
Ainda lembra o dia em que um deles começou a ter idéias, dúvidas, pouco tempo teve para nada, foi logo morto, apedrejado, esquartejado. Ele, o ser estranho, não opinava apenas mantinha a distância, eram traiçoeiros seus vizinhos, perigosos perseguidores do que ia a favor de qualquer evolução.
Na sua chegada tentara estabelecer contato, fora inútil, eram surdos para o diferente. E agora há pouco vira a linda barboleta, como era louca de arriscar-se em semelhante terreno. Deveria ter-lhe prevenido, avisado sobre a intolerância reinante. Pobre dela, suas asinhas servirão de exemplo para quem quer que seja um pouco sonhador.
Cansou de tentar. Sentar-se-á naquela sombra, para algo esperar. Nada de cores, nada de amores, condenam-te somente às dores. E como revidar? És sozinho, ou haverá outros como tu em outro lugar?

terça-feira, 22 de abril de 2008

querer e não querer


Querer escrever sem ter o que, é como querer comer sem saber porque.
E como explicar, entender, fazer o que, se e não sabe o que querer?
Querer sem merecer é como sempre querer.
Querer tudo é ter medo de morrer


Querer e não querer é ter dois querer.
Querer agora é ter pressa em pertencer.
E como querer sem saber querer?
Querer de um jeito sem saber, é como querer tomar um ônibus sem saber porque.

Querer o gosto é querer sorver.
Querer e desistir é não entender o que se quer.
Querer sem entender o que se quer é não entender nada de nada.
E como querer que as coisas mudem se pouco sabe...se pouco se entende.. se nada faz sentido.

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Imagem: Juan Miró

quarta-feira, 16 de abril de 2008

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Variantes avariadas a avariar

Minhas variantes variam todos os dias.
O corpo durante o dia come carne e no jantar vomita tudo.
A mente perambula por ai, sem nem sequer me avisar... onde estou? onde minha mente há de estar?
Mil decisões por tomar... vou colocar o abajur aqui...acender a luz...e tentar pensar...

Minhas variantes variam todos os dias.
Um dia verde no outro preto, uma hora rock na outra um dueto.
Fios de cabelos voam por todo lugar, me perdem, me acham, onde irão parar?
Cinco estradas a tomar, essa ou aquela... isso nunca vai acabar.

Minhas variantes variam todos os dias.
O Fogo, a chuva, um doce, não se sabe o que traz alegria.
Vontades, vontades, vontades decidam de uma vez, para onde navegar?
Sinto as pernas, não é possível andar. Sinto as lágrimas sem chorar. Sinto a cabeça e não consigo ao menos raciocinar.

Minhas variantes variam todos os dias.
Um beijo, a fuga, a caça, tudo uma dicotomia.
Sexo, corpo, olhar, vocês é que irão comandar?
Perdôo, quero, não quero, roubo, jogo fora, cato no lixo e não entendo afinal como acalmar esse vicio. Como entender-me de inicio se a cada segundo vem um novo precipício?

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Troco uma dor por uma flor... que será o louco mercador a realizar tal escambo comigo?

hoje é meu dia de consumista... vou comprar um pôster do Bush colar na parede e atirar nos supostos comunistas.
hoje é meu dia de terra... planejei muito, vou ruir e engolir todos os soldados da guerra.
hoje é meu dia de porta... vou me trancar e esquecer que ao lado de fora o mundo todo entorta.
hoje é meu dia de E.T.... e como um ente, ser não humano, vou lutar para poder comer.
hoje é meu dia de árvore... vou ficar parada e esperar até ficar cansada.
hoje é meu dia de cão...não sei bem, mas creio que correrei por ai lambendo o chão.
hoje é meu dia de cega...vou ler todos os jornais e chorar nas histórias piegas.
hoje é meu dia de fogo...passarei pelo Senado para ver o que posso fazer pelo povo.
hoje é meu dia de infinito...como estarei mais perto dos deuses, talvez, aproveito e realizo um sacrifício com um cabrito.
hoje é meu dia de deixar de ser imaginário...mas pode ser que eu tenha medo e me tranque no armário.

terça-feira, 8 de abril de 2008

se o que me traduz também me seduz...

Herman Melville –Moby Dick:
“Sempre que sinto na boca uma amargura e a alma como se fosse um dia de novembro úmido e chuvoso; sempre que me pego involuntariamente parado diante de empresas funerárias ou a seguir pela rua enterros que encontro e especialmente sempre que minha hipocondria adquire tal domínio sobre mim que é preciso um sólido principio moral para impedir-me de sair deliberadamente para a rua e medicamente surrar as pessoas, significa que é sempre chegado o momento de ir para o mar, o mais depressa possível.”

segunda-feira, 7 de abril de 2008


Estou meio entediada, tudo parece bom... tudo parece estranho...tudo parece chato...
Falta alguma coisa...um suco de laranja... um cigarro de conhamas..uma viagem ao Pólo Norte... um abraço que não corte...
Falta lógica na vida...na morte..na sorte ou não sorte...
Estou meio chateada...meio triste...meio chapada...
Faltam flores...camas...novos amores...
Faltam estrelas cadententes...a fada dos dentes....uma pira “calhente”...
Estou meio desnorteada...sem mapa...sem bússola...sem estrada....
...idéias manjadas...cartas desperdiçadas...
Faltam garotas pra beijar....putas para amar... um colo pra embalar...jogar longe..fazer voar...
Falta animo pra fazer acontecer...para sair da bad...pra chegar ao êxtase...e só então perecer...